Projeto de Sistema Agroflorestal no sitio da minha mãe

Introdução 

Para a matéria de Sistemas Agroflorestais, que eu estou fazendo agora, o professor pediu pra fazer um projeto de SAF (Sistema Agrflorestal) para uma propriedade agrícola da região. Nosso grupo optou por fazer no sítio da minha mãe por ela já ter vontade de implantar um. 
A área escolhida é uma área de APP (Área de Preservação Permanente) que precisa ser recomposta. A área agora está coberta por grama Jesuíta, e algumas espécies herbáceas e arbustivas estão começando a povoar a área que é usada como pastagem para o gado leiteiro, ultimamente não vem sendo muito utilizada.
Ao lado da área de pastagem que será trabalhada uma área que está em estágio sucessional secundário. Essa área se reconstituiu sozinha, os agricultores abandonaram a área por se tratar de área de mata ciliar, restando somente a área entre a várzea e esse estrato de mata em recomposição para ser reconstituído.
As espécies encontradas no estrato de mata que está se regenerando por conta própria são as mais variáveis: Aroeira, Cedro, Fumeiro Bravo, Canafístula, Sapuva, Caróba, Ariticum, Chá-de-Bugre, Leiteiro, Marfim, Paineira, Canela-Amarela e Canela-Preta. Ao nível do solo (sem cobertura de árvores), as espécies de gramíneas presentes são a Brizanta e a grama Jesuíta. O estrato de mata nativa é um potencial banco de sementes e de mudas que podem ser utilizadas para recuperar a área ao lado.
Vista da área ao fundo 


Levando em consideração que a área onde o projeto será implantada tem relações com o exterior da unidade produtiva, devemos levar em consideração os fatores externos que tem influência sobre esta. Um dos fatores que deve ser observado com bastante atenção diz respeito aos fatores legais. Nesse contexto deve-se entender o que é uma área de preservação permanente, o que é uma unidade produtiva caracterizada como de agricultura familiar e qual a relação destes com o projeto. 

Áreas de preservação permante (APPs), são áreas protegidas, cobertas ou não por vegetação nativa, localizadas em áreas de faixas marginais de qualquer curso d'água natural (mata ciliar de beira de rio), entorno das nascentes e dos olhos d’água perenes, entorno dos lagos e lagoas naturais, alem dos reservatórios d’água artificiais, nas encostas ou em partes destas com declividade superior a 45° e topo de morros, montes, montanhas e serras. Sua principal função é preservação dos recursos hídricos, estabilidade geológica, biodiversidade, beleza da paisagem, conter a erosão do solo, diminuindo riscos de enchentes e deslizamentos de terra e rocha nas encostas, facilitando o desenvolvimento da fauna e flora e, especialmente, assegurar e preservar o bem-estar das populações humanas. (Brasil, Código Florestal ,2012) . 
Algumas leis ambientais permitem certos manejos para áreas protegidas por lei por agricultores familiares, por saber que as áreas destes são limitada e considerando que os agricultores familiares necessitam destas áreas para produzir seu sustento. 
Conforme a lei LEI Nº 12.651, DE 25 DE MAIO DE 2012. Art. 3º inciso V é considerado pequena propriedade ou posse rural familiar: aquela explorada mediante o trabalho pessoal do agricultor familiar e empreendedor familiar rural, incluindo os assentamentos e projetos de reforma agrária, e que atenda ao disposto no art. 3o da Lei no 11.326, de 24 de julho de 2006
Conforme o Novo Código Florestal (2012), em casos de produtores de agricultura familiar, é permitido o plantio intercalado de espécies nativas de ocorrência regional com espécies exóticas lenhosas perenes ou de ciclo longo, em até 50% da área total a ser recomposta em áreas de preservação permante. Para áreas de reserva legal unidades de produção menores que quatro módulos físcias , que possuem área menor que 20% de reserva, não precisarão recompor as reservas legais. 
A família em questão, se encaixa em agricultura familiar pois, possui área menor que quatro módulos fiscais (para o município de Palmital, cada módulo fiscal, equivale a 20ha), além de predominar na unidade de produção, a mão de obra da própria família e por que a renda da família advém das atividades desenvolvidas na propriedade.

Sobre o Sistema Agroflorestal a ser adotado


Os sistemas agroflorestais podem ser classificados por sua composição, arranjo temporal e arranjo espacial. Em relação a composição do sistema a ser implantado na unidade produtiva este se caracteriza como um sistema silviagrícola, onde se combinam árvores, arbustos ou palmeiras com espécies agrícolas (MDA, 2008).
Já em relação ao arranjo temporal do sistema a ser implantado, esse pode ser classificado como simultâneo ou concomitante, nesse todos os componentes são associados ao mesmo tempo, durante todo o ciclo das culturas existentes (MDA, 2008, Engel, 2010). A classificação do arranjo espacial do sistema se classifica como mistos densos, onde a variabilidade de espécies é alta e a quantidade dessas espécies também é alta (Engel, 2010).


Espécies a serem utilizadas

Açoita-cavalo, Araçá, Araucária, Ariticum, Aroeira Pimenteira, Banana, Bracatinga, Canafístula, Canela-Guaicá, Cedro, Cerejeira-do-mato, Guaçatonga, Erva-mate, Guabiroba, Guajuvira, Imbuia, Ingá, Ipê-Roxo, Jaboticaba, Caroba, Juçara, Paineira, Pata-de-vaca, Pitanga e Uvaia. 
São todas árvores nativas da Floresta Ombrófila Mista, além das espécies nativas também temos intenção de fazer o plantio de bananeiras que virá a se tornar fonte de renda para a família já no primeiro ano.
As mudas não vão ser compradas, pois através de parceria com a empresa Tractebel Energia através de seu horto florestal produzem mudas de árvores nativas, também através do Instituto Ambiental do Paraná - IAP de Pitanga e/ou Guarapuava. As que não forem adquiridas dessa maneira poderão ser conseguidas por sementes na área e com vizinhos (no caso das mudas das bananeiras).

Plano de Ação

Para que se possa implantar o sistema da melhor maneira possível, será elaborado um plano de ação, pelo qual todas as informações necessárias para o agricultor serão explicitadas. O plano será dividido em períodos de tempo: primeiro ano, terceiro ano, quinto ano e dez anos. Nele constará os manejos a serem realizados bem como as espécies a serem implantas, os produtos que agricultor poderá obter da sua área (de acordo com a legislação vigente).

Os frutos do Sistema Agroflorestal

Espera-se do Sistema Agroflorestal de recuperação de área de Preservação Permanente (Mata Ciliar), no Sitio Paineira Branca em Palmital -PR, efeitos benéficos para toda propriedade e regiões limítrofes. Com a implantação de árvores na área atualmente descoberta, espera-se que hajam efeitos positivos para o solo como: controle de erosão, tanto hídrica por se tratar de uma área com relavo com inclinação de aproximadamente 40°, quanto eólica; melhora na estrutura física e química do solo pela incorporação de matéria orgânica, cobertura vegetal e raízes mais profundas das árvores; redução da evaporação da umidade do solo (perda de água) pela proteção das plantas; aumento da taxa de matéria orgânica e de infiltração de água no terreno; fixação e disponibilização de nutrientes ao sistema; reciclagem de nutrientes das camadas profundas do solo através das raízes das árvores; aumento da população de microrganismos e insetos benéficos e estabilização da temperatura pela criação de microclima pelas floresta.
Por se tratar de um sistema agroflorestal também é esperado retorno financeiro à família, seja pela venda de frutos ou derivados de frutos retirados do local como também pela diminuição de gastos para compra de produtos que serão retirados do local. Como retorno também podemos citar que este poderá vir de forma indireta, pois a família cria porcos soltos e os mesmos poderão alimenta-se dos frutos que estarão disponíveis na área. Por fim espera-se que o projeto sirva de modelo para implantação de outros SAF´s e áreas de preservação permanente na região.Podemos contar com 50 bananeiras por talhão. Considerando uma produtividade média de 25 kg/planta, com 100 plantas à 1,00/kg, pode-se obter R$ 2,500,00 por ciclo. Cada ciclo pode durar de 12 até 16 meses. 
Supondo que a partir do quinto ano será possível fazer a colheita da erva-mate, e que cada pé terá um rendimento entre 5 e 8 kg, nos anos inicias, a partir dos 10 anos de plantio o rendimento ficará em torno de 10 a 15 kg por planta. De acordo com dados do site Agrolink, com base no dia 03/12/2015 o kg de folha de erva-mate é vendido a R$ 1,00 (ou R$ 15,00 a arroba).
Ao se considerar que a área terá produção de frutas nativas como: Pitanga, Araçá, Guabiroba, Jaboticaba, Uvaia e Pinhão, pode-se projetar uma renda a partir do terceiro ano, quando algumas das myrtaceaes começaram a produzir. Como na região vem se desenvolvendo alternativas para o uso de frutas nativas, pode-se planejar a utilização das frutas que serão colhidas na área para a comercialização em forma de polpa. As organizações de produtores das quais a família faz parte, vêm desenvolvendo a atividade na região e várias grupos de agricultores já tem acesso a máquinas despolpadores que podem vir a ser usadas pela família
Tabela - Preço médio de mercado das frutas nativas
Fruta/fruto
Média de produção por planta (Kg)
Preço kg da fruta
R$
Preço da polpa (100 gr)
R$
Araçá
15
-
2,50 - 3,00
Guabiroba
-
2,00
1,50 - 2,00
Jabuticaba
-
5,00
2,50 - 3,00
Juçara
5
1,80
1,00
Pinhão
30
6,50
-
Pitanga
-
5,00
2,50 - 3,00

Deve-se considerar que existe um custo para produção dessas polpas de frutas nativas, nele está embutido o valor do trabalho empregado na produção, transporte até unidade despolpadora, energia elétrica, depreciação das máquinas (despolpadora, freezer e fogão), e embalagens plásticas. 
A opção da produção de polpa de frutas é interessante, mas é difícil demonstrar o retorno financeiro delas para o sistema. Não existem muitas referências sobre a produção média por planta de frutos, nem quando essas plantas começarão a produzir.
Limites e desafios

As principais limitações que serão enfrentadas para implementação dessas áreas dizem respeito principalmente a falta de mão de obra da família. Outro fator limitante é conseguir ter acesso a mudas de árvores nativas, essas não são tão facilmente encontradas, e quando são como no caso das mudas da empresa Tractebel e do IAP é necessário deslocamento até outros municípios para ter acesso as mesmas aumentando custos de implantação. 
Outro desafio a ser superado em relação a implantação é o transporte dessas mudas, que são muitas, até o local de implantação do SAF´s pois é necessário atravessar uma área de várzea para chegar até o local, não é possível passar com carrinhos ou carro de boi, será necessário levá-las na mão. 
A falta de tecnologia desenvolvida para esse tipo de agricultura é um outro fator que limita a criação de sistemas agroflorestais. Essa tecnologia pode até existir (como no caso de instrumentos para fazer poda de árvores), mas o agricultor não tem fácil acesso a estes instrumentos, Isso se deve a falta de tradição florestal dos agricultores, logo tendo baixa demanda para essa tecnologia se tem pouca oferta de tecnologia. 
Após a implantação do sistema agroflorestal por conta da mão de obra que é escassa também haverá limitação para o manejo do local pois é uma área grande para ser manejada por duas ou três pessoas apenas e além dessa atividade a família conta com outras que consomem bastante tempo e dedicação durante todo o ano.
Haahah esse foi um resuminho... o projeto tem 40 páginas *-*

Referências 

ABDO, M. T. V. N, et al. Sistemas Agroflorestais e Agricultura Familiar: Uma Parceria Interessante. Revista Tecnologia & Inovação Agropecuária, Dezembro, 2008. Disponível em <http://www.dge.apta.sp.gov.br/Publicacoes/T&IA2/T&IAv1n2/Artigo_Agroflorestais_5.pdf> Acesso em 20 nov. 2015. 
AGROLINK. Cotação Erva-mate em Guarapuava - PR. Site Agrolink.com. Disponível em <http://www.agrolink.com.br/cotacoes/diversos/erva-mate> Acesso em 03 de dez. 2015. ARMANDO, M. S. et al., Circular Técnica 16: Agroflorestas para Agricultura Familiar. Brasília, 2002. Disponível em <http://www.agrisustentavel.com/doc/agrofloresta.pdf> Acesso em 10 de out. 20015. 
BRASIL, Lei n° 12.651, 25 de mai. de 1996. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/L12651compilado.htm> Acesso em 19 de nov. 2015.
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BUARQUE, Cristóvam. Avaliação econômica de projetos. Rio de Janeiro: Campus, 1991.
CIFLORESTAS. Sistemas Agroflorestais. Site CIFlorestas, 2008. Disponível em <http://www.ciflorestas.com.br/texto.php?p=sistemas> Acesso em 25 de nov. 2015. 
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KEELLING, Ralph. Gestão de projetos: uma abordagem global. São Paulo: Saraiva, 2002.
MDA, Ministério do Desenvolvimento Agrário. Manual Agroflorestal para a Mata Atlântica. Brasília, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Secretaria de Agricultura Familiar, 2008. 196 p.
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PENEIREIRO F.M. et al, Apostila do Educador Agroflorestal: introdução aos sistemas agroflorestais, Universidade Federal do Acre, 2015. 77p. 
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Comentários

  1. Sou agrofloresteiro e ofereço meus serviços se precisarem!

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    1. Oi Hermes, obrigada pelo seu comentário. Meus pais tem assistência técnica e estão desenvolvendo já o projeto deles de agrofloresta.

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    2. Oi Hermes, como anda a vida de agrofloresteiro?

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