Crônicas da Tia Jake: Noite Estrelada

Bem vindo caro navegante, ao meu muro das lamentações! 
Um lugar onde eu uso metáforas, ironias e rodeios para reclamar do que me acontece. Hoje vou te contar sobre algo que me ocorreu em uma viagem durante minha graduação no ano de 2013. Lá se vai quase uma década do acontecido, mas me tomou uns cinco anos pelo menos para eu poder contar essa história para alguém. Infelizmente para mim, não se trata de história engraçada, apesar de tanto tempo passado eu ainda não consigo rir do evento. 

Em uma disciplina da graduação o professor promovia uma viagem para Argentina para visitarmos uma fazenda modelo na produção de leite, frutas e conhecimento. Na metade do semestre a viagem aconteceu, uma particularidade da turma que ia viajar é que eram apenas duas mulheres os demais eram só homens. 

A experiência na fazenda foi ótima, muito rica e lá nós passamos quatro dias entre visitas e práticas. Em uma noite de sábado, os estudantes foram liberados para ir ao vilarejo local para conhecer os lugares e tomarem uma cerveja. 

Os rapazes da turma convidaram as estagiárias da fazenda para irem junto com eles, e eu a outra mulher da turma e alguns amigos não nos juntamos a eles, até por uma questão de não sermos do mesmo grupo e nem sermos próximos. Nosso grupo foi, se divertiu e voltou cedo, pois no outro dia de manhã iriamos acompanhar as cinco da manhã o ordenha das vacas e o preparo do queijo da fazenda.

Fomos dormir, o quarto onde eu e minha colega ficamos hospedadas era dentro da sede da fazenda, então todos passavam por ali obrigatoriamente. Nesse dia específico, eu não consegui dormir muito bem, não sei se foi a cerveja ou outra coisa. Lá pelas tantas o grupo dos rapazes volta e senta do lado da janela do meu quarto. 

Inicialmente eles estavam conversando com as estagiárias, moças bonitas e simpáticas. Nenhuma delas falava português e eles se aproveitavam disso para falar coisas idiotas que eles não diriam (ou diriam) a mulheres que os entendessem. As meninas foram dormir, uma parte do grupo dos rapazes também. Permaneceram ali do lado da minha janela quatro ou cinco deles.

Não demorou muito tempo e eles começaram a falar sobre eu e a minha colega. As coisas que eles disseram sobre ela eu não lembro, muita coisa eu bloqueei na memória e não tenho acesso mais. Já as coisas que eles falaram de mim ainda consigo ouvir as vozes e risos na minha cabeça. Eram comentários em relação a minha aparência, desagradável aos olhos deles e também em relação as minhas roupas, especialmente sobre uma calça de pijama que eu tinha. 

Era uma calça cinza com estrelas, eu havia comprado especialmente para viajar, porque eu não tinha nenhuma roupa de pijama, nunca tive dinheiro para comprar um. Enfim, segundo esses rapazes maravilhosos, eu estava parecendo um céu, um céu de horrores com aquela calça e devia ter vergonha de vestir esse tipo de coisa. 

Hoje com quase trinta anos nas costas, muitas coisas vividas, experiências e tropeços, acho que isso ainda me afetaria, imagina eu aos vinte e um anos de idade, imatura, insegura ouvindo esse tipo de coisas? Eu levei um baque e não consegui por muito tempo falar disso, meu maior medo era das pessoas concordarem ou dizerem que era exagero meu. 

Eu lembro de ter ficado em alerta naquela noite por causa das outras meninas que estavam com eles. Meu medo era deles tentarem se aproveitar delas por estarem em maior número. No fim das contas, eu me senti mal por causa das pessoas que eu desconfiava que poderiam se aproveitar de meninas vulneráveis. 

Isso me faz pensar em como eu (nós) queremos agradar a todos, precisamos agradar a todos. Mesmo que o ser humano em questão não seja importante ou relevante, nós sentimos que precisamos agradar essa pessoa. De onde vem isso? Porque quando eu penso nas pessoas, eu não gosto de todas elas e tá tudo certo, então por que cargas d'água eu preciso agradar a todos? De onde vem esse medo de ser rejeitada até por quem eu não nutro nenhum sentimento positivo?

Enfim, terapia né?

Me conta nos comentários se algo assim já te aconteceu e como você reagiu



Comentários

  1. Enfim, os traumas de não se pertencer a um padrão, e achar que quem pertence se torna superior por isso, muitos traumas se desenvolvem por olhares de desprezo, imagina por escutar claramente, enfim, acredito que precisamos de terapia, e essas pessoas que falam como donas da razão e seres intocáveis também.

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    1. Nesse caso, desconfio que era ciúmes e um pouco de inveja dessa galera. O autor das ofensas tentou ciências sem fronteiras, teve apoio da universidade mas não conseguiu ir. E aí do nada eu vou, isso abalou muito esses rapazes.

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  2. Apelido de casa familiar patinho feio, . Por que se vestia igual piá, e lisa Simpson por não ter corpo de mulher as 15 anos. E estar sempre etudando.

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    1. Tem coisas que para quem disse não são nada importantes, mas para quem recebe marcam para o resto da vida.

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